outubro 01, 2008

olhos ao céu e alma desgasta (mas não morta)

um dia vi um mendigo
no corpo
as marcas
nas poucas roupas
a sujeira
e nada no bolso

nem no estômago

minha carteira
só moedas:
a maldita xérox

um dia vi um mendigo
nas suas células
a mesma quantidade
de cromossomos
que nas minhas
(e daquele que passou ao meu lado, e daquele e aquele outro também)
telencéfalo desenvolvido
e polegar opositor

macho de uma espécie fajuta

um dia vi um mendigo
em seus olhos
o brilho de quem ainda vive
suas mãos
em posição de quem ainda acredita
na boca
a prece de um irmão
(feito à imagem e semelhança, não?!)

um dia vi o mendigo
e o mendigo rezava

Elenise Penha

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