novembro 26, 2015

Hoje eu chorei de cansaço.

E senti o peso de todas as rugas e amarras imaginárias que carrego.

Queria ter uma corrente de meistre, com seus elos pesados de sabedoria e conhecimento, mas eu só tenho prisões de elos enferrujados.

setembro 08, 2015

Temos que

         parar de noias
paranoias
               parafusos
caraminholas

agosto 18, 2015

Fricassê de fracassos

Fracassei como filha e fracassei como irmã. Fracassei como mãe, porque ainda não sou e nem quando quando vou querer e ser. Fracassei como mulher, fracassei como namorada, fracassei como amante. Fracassei em ser loira, ruiva e morena porque fui todas e nenhuma ao mesmo tempo. Fracassei com os estudos e com o trabalho. Fracassei com amigos e como amiga. Fracassei com viagens e com planos. Fracassei no mergulho porque tive medo. Fracassei no escuro porque ainda hoje imagino monstros. Fracassei com o apego e o desapego. Fracassei com o amor. Fracassei com os dias e com as noites. Com as horas mal dormidas e com os sanduíches comidos. Fracassei com o mar. Fracassei com o rio. Fracassei com a terra. Fracassei com os que moram perto e com os que moram longe. Fracassei com tias e primos. Com filmes e séries. Com datas. Com a cama. Com feriados. Fracassei em abraços e apertos de mão. Olhos nos olhos. Fracassei com pernas e braços, meu corpo e minha alma. Minha religião. Fracassei com meus dons e fracassei com meus defeitos. Na minha infância e adolescência. Fracassei com a vida adulta. Fracassei como neta e afilhada. Como gorda e como magra. Como branca e como negra. Fracassei com meu cabelo, fracassei com a minha pele. Fracassei com meus pés. Nos passos dados e nos caminhos tomados. Fracassei como feminista e feminina. Como abusada e como julgada. Fracassei em réveillons, festas de aniversário e casamentos. Chás de bebê e de panela. Fracassei com a insônia, na dor de cabeça e no peito. Fracassei nas formas e fórmulas. Fracassei com a felicidade e com a tristeza.

Fracassei com o tempo e com a vida. Meus 25 anos e eu aqui juntando fracassos.

Fracassei com esse texto e fracassei com você.

julho 16, 2015

A volta em torno do sol é a vigésima quinta, mas eu sinto como se já estivesse parada há um bom tempo.

Só em rotação

Vários corações na vida...

                     ... e uma couraça no peito.

junho 17, 2015

A pior hora da praia

Os pés estão na areia

Mas ela é quente

Pra fugir dela preciso entrar no mar

Maré alta. Agitação. Água gelada

Preciso aprender a nadar

abril 12, 2015

Sobre o tempo e sobre a vida: medo

O medo atrapalha
É o pensar demais, é o pé atrás
Acaba e não faz

O medo mata o sonhar
O medo auxilia a fuga
O medo impede a luta de cabeça erguida

O medo
Não apaga a luz quando está frio,
Por causa do bicho-papão da memória

O medo
Não acende a luz quando está quente,
Desperdiçando o olho no olho

Medo de parar e medo de sair
Medo de correr e medo de cair

março 15, 2015

Por sobre o texto

Queria escrever um texto feliz, um texto sobre amor, vida, sobre superação. Mas não. Em vez de todas as querências sai apenas isso. Os dias arrastados e a chuva que não veio.

Eu, destinatário

Escrevo cartas pra mim mesma e não as abro
Nem respondo
Não ouço meus conselhos
Nem leio os versos
Perdi o costume de cartas endereçadas, de caligrafia em punho

Não sei ser destinatário nem remetente
Escrevo cartas pra mim mesma e não as abro. Nem respondo. Me acho chata e banal demais, não tenho o direito de sair falando assim de mim pra mim. Não ouço meus conselhos. Nem leio os versos. Anteontem eu quase saio de mim, ontem também. Não permiti. Todos os braços que me puxavam e olhos observadores pareciam não desistir. Foram mais fortes e incisivos. Hoje tenho hematomas. Então eu tentei levantar e tudo doeu. Queria escrever um texto feliz, um texto sobre amor, vida, sobre superação. Mas não. Em vez de todas as querências sai apenas isso. Os dias arrastados e a chuva que não veio. Perdi o costume de cartas endereçadas. De caligrafia em punho. Pode ser trauma ou pode ser sorte. Confesso que antes eu não sabia ser destinatário. Era tão contemplativa que esquecia do mundo externo. Ou não. Nunca me desculpei a não ser em pensamento. Acho que sei lidar mais com o que fazem do que com o que falam.
Agora, mais do que nunca, eu acredito em ações.